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A mostrar mensagens de 2019

NÃO ME DIGAM QUE NÃO TEM IMPORTÂNCIA

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Sobre as eleições do último domingo (06 de outubro) não faltarão os comentários e a especulação sobre eventuais soluções, tendo alguns jornalistas/comentadores, ainda na noite de ontem, profetizado a desgraça e disfarçando mal o azedume de uma derrota, com mais ou menos cor, de Rui Rio. O PSD perdeu não por ter uma percentagem inferior ao PS, mas por lhe ser impossível construir no momento qualquer alternativa de direita. Mas deixemos o assunto para os entendidos no comentário político, mesmo se encapuçado de jornalismo imparcial.  Sobre os resultados - sem os inscritos no estrangeiro - gostaria apenas de sublinhar alguns aspectos que me parecem relevantes. 1. A abstenção passou de 43% em 2015 para 45,5%, o que significa 191 410 votantes a menos, feitas as devidas correcções do número de votantes, uma vez que havia cerca de menos 96 600 inscritos. O número de votantes aumentou se considerarmos os automaticamente recenseados no estrangeiro. Este é um problema que exige uma re

TANCOS - ARMA DE ARREMESSO CONTRA A DEMOCRACIA

Tancos tornou-se, graças à falta de senso do Ministério Público, arma de arremesso contra a democracia e entrou na campanha eleitoral pela pior das razões, ou seja, no meio do desespero serve como isco da caça ao voto , pretendendo transformar os "julgamentos de tabacaria" em veredicto eleitoral. Quando alguém num período de dias muda assim de opinião e de comportamento, isso diz muito sobre esse alguém e a sua forma de se comportar quando ameaçado. Somos humanos e quando se trata de sobrevivência viramos feras. Vamos então ao fundamental de tão grande imbróglio, não tanto para os responsáveis políticos, mas sobretudo para as Forças Armadas e para a democracia. 1. Tancos é um assunto grave que merece apurada reflexão? Sem dúvida. 2. Ao Ministério Público cabe a gestão da investigação e dos seus timings? Certamente. 3. Existe responsabilidade política, primeiro do Ministro da tutela e também do Primeiro Ministro? Decorre da própria consciência democrática e da sua viv

A PROPÓSITO DE UM ARTIGO DE HENRIQUE NETO

O Engº Henrique Neto (HN) publicou no Jornal i online ( ler artigo ), no passado dia 13 de março, um texto de opinião que me merece alguns reparos e/ou comentários. Não é que isso me diga directamente respeito, mas qualquer cidadão tem o dever de exigir a quem ocupa o espaço público uma maior exigência. Só assim é possível nos tornarmos mais conscientes do papel que, enquanto cidadãos e cidadãs, temos na transformação da realidade.Como não sou leitor regular do citado jornal, um amigo enviou-me o dito texto. Começa HN por atribuir responsabilidades aos partidos da área do poder por terem comprometido o desenvolvimento do país ao longo das últimas três décadas, sendo esta uma das principais razões responsável pela, segundo o próprio, aversão dos portugueses aos partidos. Feita esta ressalva, como pretendendo justificar a sua imparcialidade, parte para um ataque ao PS e ao exercício do poder desde os tempos de Guterres assancando-lhe - pelos anos de exercício do poder - as principais

JUSTIÇA QUE GERA INJUSTIÇA

Algo de estranho - diria mesmo, muito estranho - se passa neste país e, mais ainda, no que à justiça toca. Todos nós já ouvimos comentários sobre os problemas da justiça e da sua morosidade, o que acaba por ser gerador de injustiça. Não faltam também as decisões polémicas, o que, julgo eu, sempre acontecerá. Acresce ainda uma comunicação social ávida de sangue, quebrando quase diariamente as regras mínimas de deontologia e de ética, assumindo-se como uma espécie de juíz moral da causa pública. Se na política o populismo é perigoso na comunicação social ele é corrosivo e destrói paulatinamente os alicerces da democracia. Acreditava eu, talvez com alguma candura, que quem julga, independentemente das suas opiniões e opções pessoais, deveria guardar o devido distanciamento, resguardar-se de julgamentos laterais à sua função e focar-se na aplicação da lei, assumindo que as decisões podem ser controversas e, por isso mesmo, sujeitas à crítica. A crítica em nada diminui a legitimidade da

ABUSOS SEXUAIS DE MENORES: TSUNÂMI NA IGREJA

Este é um artigo um pouco, ou muito, diferente do habitual, mas senti-me na obrigação e no dever de o escrever e de o partilhar. Não apenas pela revolta que este vendaval me causou, sobretudo pela omissão da igreja, mas também pela hipocrisia que por aí circula de quem, através deste vendaval, pretende lavar a sua própria consciência. Podemos ou não ser católicos, podemos ou não acreditar, podemos até desconfiar da bondade da igreja, mas não podemos negar a coragem do Papa Francisco em enfrentar o problema e de afirmar, de forma muito clara, que é tempo de limpar e arrumar a casa. Sabemos que não irá tudo resolver, mas este foi sem dúvida um grande passo, sobretudo porque  feito de forma aberta e transparente e não no secretismo dos corredores do Vaticano. Sendo católico - sobretudo cristão - sou daqueles que não acredito na mudança das instituições sem que as pessoas mudem. As instituições, sejam elas quais forem, são espaços de poder onde se tecem relações que cimentam ainda mais

CORROSÃO DA DEMOCRACIA

A corrosão da democracia faz-se pela chamada “corrosão por pites”, por cova, o que significa que ela vai actuando em pontos específicos, os mais vulneráveis. A degradação da democracia nunca acontece de forma intempestiva ou de uma forma uniforme, mas é antes um processo lento e gradual até ao ponto em que se torna perigosamente visível e corrosiva e, de um modo geral, nesse momento já será demasiado tarde, porque irrecuperável. Isso acontece porque vão aparecendo pontos vulneráveis e algumas portas que, por razões diferentes, se vão deixando entreabertas. Talvez por isso seja tão difícil ao cidadão comum perceber quais as portas que vão ficando entreabertas ou quais os pontos de corrosão e das correntes de ar ou danos que vão provocando. Ao não possuir toda a informação ou, se a tem, saber se é informação fidedigna, para além de ter um sentido crítico sobre a mesma é tarefa cada mais mais difícil e complexa. Por outro lado, o instinto de sobrevivência (o momento) leva-o a ir atr

QUE ENSINO PRETENDEMOS?

Veio agora de novo à baila - escaparam-me as razões - a questão das propinas no ensino superior. Para início de conversa e para que conste, na minha modesta opinião o ensino, tanto quanto possível deveria ser gratuito e responsabilizador. Tal como a saúde e outros direitos inscritos na constituição. O ensino deve ser suportado pelo Orçamento de Estado, ou seja, pelos impostos de todos nós, equitativamente colectados e pagos. As propinas são apenas uma parte do custo que as famílias suportam. Aliás, o problema começa logo na infância e na dificuldade em encontrar creches para as crianças. Quando tanto discursam sobre a natalidade, importa que sejam coerentes. Confesso que  não entendo a posição de alguns, sobretudo oriundos da direita, que sendo acérrimos defensores do apoio do Estado aos colégios privados são contra a gratuidade do ensino superior. Será que pretendem que aceda ao ensino superior apenas uma elite?  O ensino deve, por um lado, ser visto pela sociedade como um investimen

ENFERMEIROS - UMA GREVE CONTRA SI PRÓPRIOS

A greve dos enfermeiros veio introduzir algumas mudanças sobre as quais valerá a pena reflectir. Não sei se têm ou não razão ou se esta estará apenas de um dos lados. Imagino que tenham as suas razões e estas devem ser respeitadas. Contudo, o respeito pelas suas razões não significa que a verdade esteja do seu lado. Ou apenas do seu lado. A realidade tem sempre leituras diversas dependendo das fundamentações da sua interpretação. Aliás, e não será despiciendo, as suas razões serão porventura semelhantes às de outras classes profissionais e quiçá com um grau de urgência menor. Nem mais nem menos justas, nem mais nem menos urgentes.  Sendo a greve um direito cujo exercício implica sempre perturbações, incómodo e prejuízo para terceiros - se assim não fosse não teria grandes efeitos -, importa fazer um balanço entre os benefícios para os próprios e prejuízos para terceiros, pois só assim o exercício do direito encontra justificação. Daí que uma greve, qualquer que ela seja, deva ter e