NÃO ME DIGAM QUE NÃO TEM IMPORTÂNCIA
Sobre as eleições do último domingo (06 de outubro) não faltarão os comentários e a especulação sobre eventuais soluções, tendo alguns jornalistas/comentadores, ainda na noite de ontem, profetizado a desgraça e disfarçando mal o azedume de uma derrota, com mais ou menos cor, de Rui Rio. O PSD perdeu não por ter uma percentagem inferior ao PS, mas por lhe ser impossível construir no momento qualquer alternativa de direita. Mas deixemos o assunto para os entendidos no comentário político, mesmo se encapuçado de jornalismo imparcial.
Sobre os resultados - sem os inscritos no estrangeiro - gostaria apenas de sublinhar alguns aspectos que me parecem relevantes.
1. A abstenção passou de 43% em 2015 para 45,5%, o que significa 191 410 votantes a menos, feitas as devidas correcções do número de votantes, uma vez que havia cerca de menos 96 600 inscritos. O número de votantes aumentou se considerarmos os automaticamente recenseados no estrangeiro.
Este é um problema que exige uma reflexão séria da parte de todos aqueles e aquelas que prezam a democracia. E não me venham com a conversa que a responsabilidade é dos partidos, trata-se de um exercício de cidadania. Nem sequer se podem queixar de falta de escolhas. Importa relembrar que o voto, sendo um direito, é também um dever e não podemos continuar a assistir alegremente ao crescimento do número daqueles e daquelas que não cumprem um dever básico da democracia que lhes dá os direitos que tanto reclamam.
Há quem não se importe de comer "merda frita" e que não queira ser representado. (vídeo: https://youtu.be/VaXwvqD_0z4).
2. CDS. Embora distante (nos antípodas) da ideologia veiculada pelo CDS/PP, ainda mais o CDS dos últimos anos, não posso, enquanto cidadão e democrata, deixar de ficar preocupado com tão pesada derrota, sobretudo quando no espectro político outros fantasmas emergem. Goste-se ou não, a verdade é que o CDS é um partido do nosso sistema democrático que permitia a aglomeração do eleitorado mais à direita. O enfraquecimento do CDS pode ter como consequência a deslocação de algum desse eleitorado para outras ofertas mais à direita, nomeadamente a extrema direita. O crescimento da extrema direita começa muitas vezes pela implosão dos partidos do sistema. Cuidado!
3. Extrema Direita. Espero que os parlamentares, políticos, comunicação social, comentadores da praça e todos os que tenham voz tenham a decência de deixar bem claro que partidos deste tipo não são bem-vindos à democracia. E não me venham dizer, como aquando da eleição de Trumph e de Bolsonaro, que não tem importância já que nunca poderão fazer o que em campanha anunciaram. Erro crasso dos incautos. Sem hostilizar é preciso dizer Não. Quem assistiu como eu à gestação da Frente Nacional em França no final da década de 70 e início de 80 do século passado, sabe que o silêncio é caminho fértil. Uma porta que se abre, se formos incautos, quando nos dermos conta temos o salão cheio de ruído. E não é apenas o CHEGA, há outros partidos com um discurso anti-sistema que embora não se assumindo claramente de extrema-direita lançam achas para a fogueira com um discurso anti-sistema ou bebendo em fontes que em algumas áreas são pouco democráticas.
A este propósito aconselho a leitura do Livro "Como Morrem as Democracias", Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (professores da Universidade de Harvard).
4. Dar os parabéns ao LIVRE não apenas pela deputada eleita, mas sobretudo pela coragem por apresentar uma mulher, negra e com um problema de gaguez. A isto chama-se inclusão sem receio de assumir riscos. Não deixa de ser irónico isto acontecer quando pela primeira vez a extrema direita tem assento parlamentar. Parabéns Joacine.
Parece que existem mais duas mulheres negras no parlamento (uma do BE: Beatriz Gomes Dias e outra do PS: Romualda Fernandes).
5. Foi impressão minha ou no Boletim de voto o PAN, além do acrónimo tinha o nome por extenso em maiúsculas?! Era o único? Existem razões legais para tal?
Admito que possa ter visto mail.
Tentem ser Felizes em Seara de Gente.
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