RECADOS PARA QUEM NOS (DES)GOVERNA

Para esta maioria que nos (des)governa e se pensa como a única detentora da verdade  - só ainda não percebemos de que verdade nos falam - tenho alguns recados, na esperança de que no meio de tão elevado autismo momentos de alguma lucidez lhes sejam permitidos.

1. O tempo das desculpas há muito se esgotou e em nada atenua a responsabilidade dos governantes, e muito menos ameniza o sofrimento dos governados, continuar a apontar o dedo a terceiros (Partido Socialista e José Sócrates)como únicos responsáveis pelo estado em que nos encontramos. Cometeram erros é certo, alguns bem graves, mas, verdade seja dita, alguma coisa fizeram e outras ficaram pelo caminho apenas porque os que agora são maioria impediram que se fizessem e tudo fizeram para que não acontecesse. Quanto aos factos deixo-os ao sentido crítico de cada um, apenas relembrando que a História não é a mera justaposição de desejos ou leituras sobre a realidade feitas ao sabor dos ventos partidários.

2. No que se refere ao aumento da despesa e sua contribuição para a dívida do País, só por populismo ou má fé continuam a afirmar o que afirmam, passando uma borracha sobre a responsabilidade que lhes pertence. Contas feitas - e eles são públicas - chega-se à conclusão que os governos dos partidos da actual maioria foram tão ou mais gastadores que os do PS. Já se esqueceram da famosa teoria dos Yuppies do Cavaquismo, que deu origem, entre muitas outras coisas, ao BPN e a muitos dos gestores que hoje têm uma concepção da sociedade baseada em modelos matemáticos (se ao menos soubessem matemática!?) e a convicção de como enriquecer e vencer fosse a coisa mais fácil à face da terra? A ideia do facilitismo e de uma sociedade onde todos podem ser vencedores, esquecendo que para haver vencedores há sempre vencidos, muito deve aos tempos áureos do cavaquismo. Nem imaginam como sofremos ainda hoje na pele as consequências desse movimento laranjinha do final dos anos oitenta e princípios de noventa! Isto sem contabilizar a destruição de alguma da nossa produção industrial, da agricultura e das pescas em troca dos milhões da Europa. E como isso hoje nos poderia ser tão útil!...

3. Se falamos de desenvolvimento, identificando-o a projectos megalómanos e sem sentido, quanto a este assunto também estamos conversados, já que ao longo destas décadas de Europa todos quiseram sempre levar a melhor. Julgo mesmo que teremos - como é apanágio deste povo com grande falta de auto-estima - alguns recordes do guinness. A única diferença é que ultimamente havia muito menos dinheiro! E se falarmos na delapidação de património, vocês são mesmo peritos. Basta atentarmos no que já fizeram neste período de pouco mais de um ano de (des)governo e o que se propõem ainda fazer. O frenesim em venderem a qualquer preço, a troco de milhões ou de um prato de lentilhas oferecido por falsos amigos, é tão grande que nem se dão conta de que estão «apenas» a vender o futuro do País deixando-nos ainda mais dependentes de terceiros, não pelo período de alguns anos, mas por toda uma vida. Mais tarde virão outros, tão ou mais ignorantes que os pais, e culparão terceiros por uma culpa que esqueceram. Para quem se preocupa tanto em não deixar encargos para as gerações futuras, é obra! Dificilmente alguém, mesmo propositadamente, conseguiria tão grande hipoteca do futuro! Mas que triste sina a nossa!

4. Gostaria que me explicassem - devo ser demasiado asno para compreender os vossos modelos - porque pretendem vender o banco do Estado (CGD) e, simultaneamente criar um novo banco de fomento? Ou pretendem apenas acabar com a CGD e quanto ao resto logo se verá?! Ou será que têm por aí alguns amigos com a mão estendida?! Imagino que neste e noutros casos seja essa a vossa ideia de serviço público: primeiro destruir e depois se verá!

5. Finalmente, gostaria que me respondessem a uma inocente pergunta: acreditam mesmo que não existem alternativas à vossa política ou é apenas uma birra de meninos sabichões? Não sabem que a recusa na procura de alternativas ou soluções diferentes, por mais difíceis que sejam, é uma atitude muito própria dos ditadores? Já imaginaram que a continuar assim - se nós deixarmos - vocês correm o risco de a História os julgarem como os coveiros da democracia?
Não se admirem se um destes dias a indignação se transforme num grande movimento de desobediência civil. Vocês estão mesmo a pedi-las!

6. Um último recado. Ou melhor, um pedido. Façam o favor de dizer ao vosso patrono, nosso Presidente, que de uma vez por todas se assuma como Presidente de um País e não como um qualquer fazedor de opinião das redes sociais. Dizem-me - e faço fé - que tem desempenhado papel importante nos bastidores, mas isso é muito pouco para quem se diz Presidente de todos nós e para que nele possamos confiar e depositar na sua acção alguma da nossa esperança no futuro. Se o próprio Presidente receia o povo, então estamos definitivamente condenados a uma morte pré-anunciada. Já agora ele até vos podia fazer um pequeno favor ao mesmo tempo que nós lhe ficaríamos devedores de um enorme: libertar-vos do enorme sacrifício que é - imagino eu - ser governo de um País tão bem comportado.

Um conselho: deixem-se de modelos e tentem ser felizes em seara de gente.

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