AFINAL EXISTE ACORDO!…
Não percebo qual o espanto quando Seguro anunciou não ter sido possível o entendimento entre os três partidos. E não me venham com a conversa que foi devido às pressões no seio do Partido Socialista ou que afinal Mário Soares foi o grande vencedor. Bem vistas as coisas, o grande vencedor foi Passos Coelho. Embora possa parecer o contrário, Passos Coelho nunca pretendeu fazer qualquer acordo com o PS. Aliás, durante o debate sobre o moção de censura apresentada pelos Os Verdes deixou bem claro o que pretendia ao dizer “O país precisa de um PS que, como partido que aspira a governar, não acalente a fantasia de uma súbita e perpétua vontade de o Norte da Europa passar a pagar as nossas dívidas provavelmente para sempre. O país precisa de um PS que aceite o convite do senhor Presidente da República para lançarmos as bases concretas e realistas do nosso futuro colectivo". O sublinhado é da minha responsabilidade. Imaginem que alguém vos pede para serem avalistas de alguém que vocês sabem de antemão que não irá pagar a dívida para a qual pretende aval, porque tudo o que ela faz – apesar de dizer o contrário – vai contra o objetivo de assumir o compromisso. Nestas condições, imagino que ninguém aceitaria. Pois bem, isso era precisamente o que Passos pretendia do PS. Não um acordo, mas um aval. Primeiro, a frase revela o entendimento (ou falta dele) que Passos Coelho tem da democracia e da solidariedade entre povos, regiões, territórios ou pessoas… Com esta visão, as populações das regiões interiores do País cuidem-se, pois as outras, as mais ricas, não têm nada que pagar o seu atraso em relação às restantes ou a sua falta de condições. No fundo este tipo de comportamento já não deveria ser grande surpresa, pois é dessa forma que tratam todos os desempregados e as pessoas mais fragilizadas. O Primeiro-ministro deveria saber que solidariedade não implica des-responsabilidade, antes pelo contrário. Diga-se que quem se demite das suas funções e tarefas com a desculpa do memorando (uma espécie de invasão), mais parecendo um colaboracionista que um resistente, não será propriamente o líder que nos conduzirá à libertação.
Só por ingenuidade, má fé ou falta de qualquer visão política se acreditaria que quem foi, com a complacência do Presidente da República, ostensivamente arredado da mesa das conversações, que quem fora demasiadas vezes hostilizado e não tendo contado para o que quer que fosse, viesse agora abençoar o caminho traçado, que nos tem conduzido à ruína e com o qual discorda profundamente. Só agora se dão conta dessa impreterível necessidade de um acordo de «salvação nacional»?! Ou será, como claramente têm demonstrado, que para esses senhores a mudança de rumo é apenas uma questão de nomenclatura: ou seja, a única salvação nacional é o caminho por eles trilhado. Quem desbaratou tantas oportunidades, não mereceria certamente mais esta. Não esqueçamos que o atual Presidente tudo fez para eleger estes senhores que agora nos governam. A ironia de tudo isto – infelizmente para todos nós – é que o regresso ao mercado de que tanto falam vai ser muito semelhante ao ponto de partida (final do governo Sócrates), ou seja, um regresso assistido, tal como na altura a Europa concordara. Não é bem semelhante ao ponto de partida, porque agora estamos numa situação muito pior.
Também não percebo por que raio tanto frenesim à volta de um acordo que se sabia de antemão não acontecer, quando afinal existia já um acordo entre os dois partidos da coligação e, tacitamente, o Presidente da República. Colocando o Presidente da República a hipótese – não acredito que não o tenha feito – de que o PS não morderia o isco, pensando ele que este não é o momento indicado para eleições e fugindo também ele de governos de iniciativa presidencial, resta-nos a conclusão que tacitamente estaria de acordo com a remodelação e a operação de cosmética sofrida pela coligação. Esta noite iremos ou não ter a confirmação, mas não antevejo outro caminho. Por isso, o acordo já existia, mesmo antes de existir. A única diferença é que não era explícito e sê-lo-á – imagino eu – a partir de hoje à noite.
Sejam felizes em seara de gente.
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