HÁ PESSOAS QUE NÃO ME MERECEM CRÉDITO

Se há pessoas a quem não dou muito crédito e, mais do que isso, de quem muito desconfio, são aquelas que pensam ter-se construído a si próprias e que aquilo que elas são ou aquilo em que se tornaram apenas a si mesmas o devem. Trata-se de pessoas que dificilmente reconhecem o espaço do outro e, quando o reconhecem, é sobretudo para reforçarem ou individualizarem ainda mais o seu próprio espaço. Esperam pacientemente, nem sempre de forma sensata, uma qualquer escorregadela do outro para que dela possam retirar proveito, mesmo tendo antecipadamente a percepção clara que a escorregadela seria inevitável. Por vezes são elas próprias que, de forma disfarçada e cínica, deixam no caminho a casca de banana. Falta-lhes também a coragem para assumirem os intentos ou os erros, embora destes últimos se pensem deles arredados.

Não me merecem crédito pessoas que tenham dificuldade em reconhecer a participação do outro na sua construção e afirmação como pessoa, já que essa atitude me parece reveladora da falta da dimensão relacional, da falta da visão de conjunto, da falta de capacidade para ler e analisar a realidade para além do espaço que é o seu e que julga único. A essas pessoas falta-lhes a dimensão cultural enquanto espaço relacional de afirmação do outro, que me interroga, me interpela e me desafia ao exercício de um poder que se revela no meu diálogo com a diferença. A sua visão da realidade será sempre amputada da dimensão coletiva, autocentrada como forma de auto-defesa face ao que as incomoda e não dominam. Quando acossadas sentem grande necessidade de se protegerem e de se justificarem sobressaindo nessa sua atitude a mágoa - ou até a raiva ou o ódio - por aqueles que, injustamente segundo elas - lhes causaram tamanhos males ou tiveram a ousadia de lhes infligir inusitadas ofensas ou tão graves injustiças.

Seja quais forem as circunstâncias, pessoas como as atrás descritas nunca me merecerão qualquer crédito, não porque a elas seja indiferente ou porque os seus caminhos sejam diferentes dos meus, mas simplesmente porque a democracia que sonho e quero ficará sempre mais pobre no espaço que julgam seu, mas que afinal também é o nosso.

Tentem ser felizes em seara de gente, porque a nossa verdadeira afirmação radica na nossa capacidade em construir laços, tecer relações.

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