REDES SOCIAIS E DEMOCRACIA

Os novos meios de comunicação de massa, entre os quais os blogs e as redes sociais, não só massificaram a informação como aumentaram de forma estonteante a sua velocidade de circulação. Esta nova realidade criou a ilusão de uma sociedade civil mais informada, actuante e consciente. Contudo, ter acesso a mais informação não significa que se tenha mais informação ou que se esteja mais informado ou, ainda, que a informação que se possui seja de qualidade. O ter acesso a grande quantidade de informação em curtos períodos de tempo pode mesmo ter um efeito contrário, ou seja, o sermos completamente devorados por ela, não nos restando o mínimo de espaço para o seu processamento.
Ao escrever isto, não pretendo dizer, muito menos insinuar, que as redes sociais sejam prejudiciais à sociedade e às democracias. Se assim fosse, não teria qualquer sentido expressar-me através delas e tal facto revelaria grande incoerência da minha parte. É meu propósito sublinhar alguns dos perigos ou riscos que, na minha opinião, podem representar estas novas formas de comunicação e interacção entre indivíduos, apesar de todas as suas vantagens. O que importa é que estejamos conscientes dos riscos e saibamos conviver harmoniosamente com eles, minimizando-os. 
Este é um mundo novo para o qual não estamos preparados, mas do qual queremos fazer parte ou do qual queremos ser parte. Queremos fazer parte de um presente que rapidamente é passado. Queremos ter voz, porque necessitamos ser ouvidos, porque temos coisas para dizer, para mostrar. Ou pelo menos assim o pensamos. Por isso seguimos a onda. Embora conhecedores das técnicas, a verdade é que estamos navegando em mares desconhecidos cujos perigos apenas suspeitamos. Um dos problemas que este novo mundo nos coloca, aliás de alto risco, é criar a ideia de que a verdadeira democracia ou a sua renovação passa ou reside nesse novo poder de comunicação em que todos podem ser protagonistas. A tentativa de deslocalização do poder democrático das instituições para estes novos espaços significam uma desvalorização - concorde-se ou não - dos pilares de um Estado democrático. Acresce ainda o facto de se assistir a uma banalização de alguns dos instrumentos das democracias. A sua banalização ou vulgarização tem como consequência a perda de qualidade e de utilidade e a sua completa desvalorização enquanto instrumento de intervenção. O caso das petições é um dos exemplos que se tornaram moda nos últimos tempos. São-nos diariamente propostas petições para tudo e a propósito de nada. A consequência imediata é que muitos de nós deixaram de lhes atribuir qualquer importância. O que era um verdadeiro instrumento de pressão democrática está em vias de se transformar num minúsculo post-it da democracia. Mais perigosa ainda a ideia de que a justiça pode ser feita através das petições ou julgamentos na rede, confundindo e misturando responsabilidade política com responsabilidade criminal. E por arrasto, perde-se o sentido do tempo histórico, da sua análise, da sua crítica, pretendendo abarcar num instantâneo do presente todo o passado e parte do futuro. Sobrevalorização do imediato como se o futuro não fosse além do instante seguinte.
As democracias para sobreviverem necessitam de uma Sociedade Civil consciente dos seus direitos e deveres, com profunda consciência comunitária, interveniente e com capacidade crítica que favoreça a renovação das instituições sem as destruir. As redes são importantes porque põem em contacto pessoas anónimas (por mais completo que seja o perfil de cada um) , porque podem juntar sinergias (também muito na moda), porque podem alavancar iniciativas, porque podem juntar ideias... Porque podem mais facilmente criar esboços de um futuro. Mas, para que uma sociedade seja verdadeiramente interveniente e protagonista, é necessário dar o passo seguinte, construir colectivamente o futuro. Esse futuro só se constrói na acção quotidiana, na procura colectiva de novos caminhos, numa maior exigência de cada um e de todos, na transformação das mentalidades. As redes permitem-nos apenas fazer esboços, para construir é necessário por as mãos na massa.
Sejam felizes em seara de gente, de preferência gente real e não apenas virtual.

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