PREVISÕES DE GASPAR E PREPOSIÇÕES
O ministro Vítor Gaspar corre sério risco de fazer parte do anedotário nacional. Crendo-se ele competentíssimo e possuidor de um saber acima de qualquer mortal, fazendo ouvidos de mercador a alguns avisos de gente bem mais avisada e, diga-se ajuizada, deveria estar mais atento à realidade e deixar-se de fantasias. Desconfio que alguém deve ter boicotado o seu computador e as suas folhas de excel ao ponto de, por maior que seja o esforço, as previsões mostram um certo pendor para os contos de fadas. Afinal, ele não passa de um menino a quem contam histórias de mundos encantados. Apesar de tudo, este pobre leigo na matéria ousa deixar-lhe nestas linhas algumas dicas ou conselhos.
- Sendo as previsões algo de complexo, nelas se devem ter em conta várias variáveis que as torne realmente mais previsíveis, ou seja, mais próximas da realidade. E a conjuntura internacional será certamente uma delas e, por isso mesmo não pode – não deve – servir de desculpa para tão grande estampanço.
- Se é verdade – como o próprio ministro recorda – que se trata de previsões, importa contudo não esquecer que é com base nelas que se desenham cenários e políticas e se tomam decisões cujas consequências atingem milhões de pessoas. Quanto mais se erra maior será o risco de os cenários e as políticas estarem errados e produzirem efeitos contrários ao pretendido e desejável.
- Não é a realidade que tem que se adaptar à «ciência económica», mas o contrário. Desenhar cenários e esperar que a realidade a eles se adapte é como acreditar que a ficção se transforma em realidade, é acreditar que podemos voar porque o super-homem o faz.
Infelizmente, a realidade está longe de um conto de fadas e, se alguma aproximação existe, a fada má parece ter lançado feitiço sobre tudo e todos.
ENTRE O DE E O DA VIVA O PODER
Em tempos tivemos direito à história de uma simples vírgula, mas agora, porque a «modernidade» assim o exige, temos direito à dança de preposições com artigo – no feminino como se exige – pelo meio. Confesso que há duas ou três coisitas que me custam a entender. Defeito meu, certamente.
- Não percebo porque se referem tanto ao espírito da lei, pois na minha ingenuidade o verdadeiro espírito da lei era impedir a perpetuação dos mandatos. Aliás, penso mesmo ter sido a razão porque foi feita e promulgada. Porque se o espírito da lei, para alguns,era perpetuar os mandatos, escusavam de perder tempo e gastar o nosso dinheiro, já que bastava ficar tudo como estava. A não ser que haja quem faça jus à sua qualidade de aldrabão e trapaceiro.
- Não entendo porque se fala tanto em reforma do poder local, quando os mesmos têm tanta dificuldade em escolher entre um de e um da e tudo fazem para lançar a confusão.
- Finalmente, não entendo porque andam tão preocupados com a renovação do poder local e com o papel dos jovens quando o que pretendem é continuar no poder.
Não há país que aguente tamanho despudor!
Uma última nota para mais uma avaliação da Troika. Como eu desejaria que os governantes do meu país se comportassem enquanto tais e não fossem meros acólitos de um poder que não escolhemos. Confesso que nunca vi generais negociarem as condições da paz com simples praças ou oficiais inferiores. Admito que venham pequenos oficiais acertar pormenores do que já foi negociado, mas pretenderem aqueles impor condições aos generais, mesmo se vencidos, não me parece aceitável. Mas, infelizmente, na verdade é assim o comportamento dos nossos governantes.
Sejam felizes em seara de gente no próximo dia 2 de Março.
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