OS BONS ALUNOS, A TROIKA E AS NOSSAS VIDAS!


1. Bons alunos
Há muito que tenho a convicção de que os bons alunos nem sempre são bons profissionais e, ainda menos, bons cidadãos. Importa sublinhar que faço uma destrinça entre o que é um bom aluno e o que é um bom estudante. Admito que haverá sempre excepções, mas o bom aluno é aquele a quem apenas interessa o objectivo, ou seja, a nota final. Significa que os fins justificam os meios. O que o define é a falta de carácter, falta de solidariedade, subserviência, falho em reflexão, acrítico e limitado nos horizontes, porque não se pode desviar do objectivo. Ao contrário, o que define o bom estudante é a sua capacidade crítica, a capacidade de procurar novas soluções, interpelar os outros, questionar-se, procurar aprofundar o seu saber e não apenas aprender em função da nota, desafiar o professor para patamares que não sejam apenas o debitar da matéria. O bom aluno sente-se como peixe na água e dá-lhe gozo explorar as teorias, brincar com modelos, mas assuta-o a realidade, o inesperado, porque não sabe como reagir. Dificilmente sairá da sua linha de conforto e tenta encontrar escudos que o protejam, em geral, repetindo até à exaustão a veracidade das suas teorias. Ao contrário, para o bom estudante a realidade é a sua praia, o que lhe dá gozo é encontrar as falhas, as brechas nas teorias que lhe ensinam. Por isso, a sua curiosidade e a sua procura são ilimitadas. Não tem propriamente uma zona de conforto.
Trata-se de definições ficcionadas e não corresponderão por certo à realidade, tanto mais porque a maioria de nós somos uma mistura dos dois ou não somos sempre o mesmo. Mas confesso que a realidade que atualmente vivemos não andará longe deste romancear. Começamos a ficar cansados destes bons alunos que apenas se limitam, acriticamente, sem opinião, a acenar cabisbaixos com a cabeça perante os ditames que lhes impõem como verdade única e inquestionável. Dificilmente se compreende tamanha subserviência, incapacidade de leitura do tempo que se vive,  ausência de pensamento político sobre a situação, apenas restando o vazio de um discurso repetitivo, incoerente e sem horizonte de esperança. Por isso gritamos BASTA.

2. A Troika 
Confesso que não gosto de gente que facilmente se descarta das responsabilidades para melhor satisfazer a sua gula. Infelizmente, a gente que nos controla e nos impõe esta dureza dos dias, é assim que se comporta. Não me merecem credibilidade nem tão pouco sei como neles poderei confiar. Aliás desconfio da confiança que eles dizem ter em nós. Não nos podem dizer, fazendo de nós imbecis, que não podem fazer nada porque as decisões são nossas, do Governo. Mas se assim é, porque pretendem eles meter o nariz em assuntos sobre os quais não são eles a decidir?! Não seria mais fácil para todos emprestarem-nos o dinheiro - e já agora a juros decentes de quem diz apoiar-nos! - e mandarem-nos à nossa vida? Ao contrário do que dizem por aí, eu não quero que a Troika se lixe, apenas pretendo que se comporte como gente grande, ou seja, responsável e que não lave as mãos dos erros que cometeu. Meus senhores, se são incapazes de assumirem a responsabilidade por erros cometidos, então eu serei incapaz de confiar em quem foge quando o fogo aperta.


3. As nossas vidas 
"Queremos as nossas vidas". Pois é, este é o grande drama que julgamos nos une, mas que é realmente o que nos separa. E não vale a pena fingirmos que estamos todos de acordo, porque eu tenho a certeza de que não é verdade. Basta ouvir os partidos políticos (se é que alguém ainda os ouve?!), as pessoas na rua, os representantes das diferentes classes profissionais, os comentários dos manifestantes... Ouçamos a Sociedade e facilmente perceberemos que, na verdade, não sabemos muito bem o que queremos. Apenas sabemos que não queremos isto. E já é muito saber o que não queremos, pois muitos haverá que nem isso sabem. E os tempos que se anunciam não irão trazer melhores dias, bem pelo contrário. Por exemplo, o último relatório da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), intitulado "Políticas para o Crescimento Inclusivo e Equilibrado" refere que este ano "quase todos os países europeus vão registar desaceleração de crescimento (França, Alemanha, Suécia), ou cair em recessão (Hungria, Itália, Holanda, Espanha e Reino Unido). "Entretanto, Portugal e Grécia estão já no meio de uma depressão económica", refere o relatório, que cita apenas Noruega e Islândia como excepções na Europa, registando uma aceleração das suas economias. O relatório chama ainda a atenção para a questão da igualdade de rendimentos e apresenta Portugal como um dos países europeus em que, desde o início da década de 1980, os rendimentos do um por cento de contribuintes mais ricos registaram maior aumento, a par de Finlândia, Irlanda, Itália e Noruega.
As nossas vidas não têm volta, por isso é bom que comecemos a interrogar-nos, se pretendemos um mundo verdadeiramente solidário e inclusivo (Será que queremos? Ou queremos só para alguns desde que nós estejamos incluídos?!) que significado tem para nós a palavra «bem-estar», o que significa um padrão de vida digno. E quando digo nós, refiro-me aos países desenvolvidos (?). E já agora também aos países pobres ou em vias de desenvolvimento há decadas, porque também eles têm uma palavra a dizer. Será que pretendemos que todos os povos tenham o nosso padrão de vida ou que julgamos ter? Será  isso possível?
Se "queremos as nossas vidas" a verdadeira esquerda - a utópica, aquela que assume riscos - tem muito que pedalar. Nós estamos apenas de passagem, o importante é o legado que deixaremos aos que nos sucederem. Pelo menos sejamos capazes de fazer o esforço de gerir bem o que outros nos deixaram. E isso inclui todas as dimensões das nossas vidas e não apenas aquelas que, neste momento, julgamos importantes.
Tentem ser felizes em seara de gente.

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