ESTAMOS TRISTES, MAS SOMOS LIVRES

Capa Jornal Público, 16.09.2012
"Sou desempregada, mas não sou delinquente"

"38 anos de descontos, mereço respeito"

"Estou triste"

Eu fui um dos muitos saiu à rua para mostrar a sua indignação. Estou certo que as razões mais profundas que motivaram cada um e cada uma a participarem nas várias manifestações por todo o País serão bem diferentes. Mas, e estou profundamente convicto, que a principal razão que levou o povo a sair à rua - muitos pela primeira vez - foi a profunda falta de respeito pelas pessoas, pelas suas vidas, pelo seu sofrimento, as quais se sentiram atingidas na sua dignidade.
Só um governo indigno não percebe o alcance das suas medidas ou finge ignorar as suas consequências. Só quem olha para a política e a economia como um mero exercício de malabarismos entre modelos teóricos e números, esquecendo que as sociedades são pessoas e as relações que entre elas existem, ignora o quanto ignorar as pessoas e atentar à sua dignidade pode ser perigoso. Surpreende-nos tamanha ignorância, tamanha insensibilidade e, para acrescentar a rol tão pouco abonatório, tamanha incompetência. As manifestações, e independentemente das razões e motivações, foram a afirmação clara de que não estaremos dispostos a vender a nossa dignidade por um mísero prato de lentilhas, sobretudo quando por ele pagamos como se nos fosse servido em bandeja de prata quando, na verdade, no-lo servem em cacos da mais ordinária porcelana.
Estou triste, estamos tristes, porque nos sentimos emigrantes no nosso próprio país. Somos mal amados, olhados com desconfiança e tudo fazem para que regressemos a uma casa que não é a nossa. Querem transformar-nos em apátridas como se a nossa existência fosse um facto sem importância. Forçam-nos a um exílio dentro do nosso próprio País, porque este se tornou demasiado pequeno para os desvarios de quem dele se julga seu único senhor. Aos ignorantes está vedado o verdadeiro sentido da liberdade e a alegria da revolta, apenas porque esqueceram que o SER e o PENSAR são atributos únicos de gente verdadeiramente livre.
Tentem ser felizes em seara de gente.

Próximo escrito: "A Troika, os bons alunos e as nossas vidas".

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