NOTAS SEMANAIS

RESPONSABILIDADE EUROPEIA
A Europa, e de um modo particular a Sra Merkl, têm em relação a Portugal a atitude que em tempos tiveram em relação à Grécia. Sabem que a realidade não é aquela que os discursos descrevem, mas fingem alegremente acreditar na correspondência entre realidade e discurso. Imagino que a estratégia sirva os interesses mais obscuros ou, no mínimo, pouco transparentes. Só assim se percebe que continuem a alimentar esse discurso, já que não seria de todo credível que a estupidez e a cegueira se passeiam pelos corredores de Bruxelas em fato de gala. Assim, continuaremos a ouvir os discursos de que Portugal está no bom caminho, que as reformas necessárias estão a ser feitas, que somos o exemplo a seguir... e toda a espécie de patranhas que nos impingem. Até ao dia em que nos apontarão o dedo, dizendo que afinal forjamos os discursos e mentimos descaradamente. Foi assim, mais coisa menos coisa, que aconteceu com as famosas contas da Grécia, auditadas pelos mesmos que mais tarde nos fizeram saber, com ar angélico e inocente, que a Grécia havia forjado as contas e mentido descaradamente. Infelizmente, esta é a responsabilidade  que se passeia nos corredores do poder europeu. Entre os muitos caminhos possíveis, seria bom que nos explicassem, tintim por tintim, porque é este o melhor caminho e não outro, coisa que ainda não conseguiram fazer nem tão pouco se esforçaram para isso. Espanta-me que os Borges e Companhia nos digam que não somos a Grécia - a violência não saiu à rua - quando tudo fazem para que isso aconteça. Um dia destes serão acordados por distúrbios de raiva e de ódio descontrolados e mostrar-se-ão, ingenuamente, surpreendidos. Ou será que é mesmo isso que pretendem? Aliás o exemplo das últimas declarações desse ministro sombra - mas que é pago por todos nós - ao acusar, a propósito da TSU, os empresários de ignorantes e afirmar que chumbariam no primeiro ano de faculdade (sendo ele o professor,  entenda-se) demonstram o que acabei de afirmar. Chumbado já o senhor está, embora ainda não convencido. 

UMA MINISTRA JUSTICEIRA
As declarações da ministra da Justiça a propósito das buascas a três ex-governantes socialistas são, no mínimo, indignas de quem ocupa o cargo de um dos pilares da democracia, ou seja, a Justiça. A ministra confundiu o papel partidário de política demagógica e populista com a dignidade do cargo que ocupa. Ao dizer que tinha acabado a impunidade está implicitamente a admitir que os visados são culpados. Mesmo que o pense, a dignidade do cargo que ocupa não lhe permitem dizer tais disparates. O que a devia preocupar era, por exemplo, saber por que razão as buscas são noticiadas em toda a comunicação social ou afirmar o princípio da inocência, sublinhando o facto de que caberá à Justiça a decisão da existência ou não de crime. Ou será que isso não a incomoda, já que foi precisamente o contrário que a sua postura indicia? Quase acreditamos que a ministra se aproveita do cargo que ocupa para afirmar o seu desejo de vingança. Como podemos nós acreditar na Justiça quando quem a deveria defender a menospreza e dela nem sequer tem consciência? Quem não respeita a democracia e os seus pilares abre caminho à ditadura, seja ela de que tipo for ou que rosto terá.



TERRORISMO FINANCEIRO
É conhecida, e algumas praças financeiras já até foram notícia pelo facto - a apetência que os grupos terroristas organizados e os grandes organizações do crime têm pelos mercados financeiros. Diga-se, em abono da verdade, que até se dão bem, pois entre gangsters, financeiros ou outros, os pares, quando se trata de negócio, acabam sempre por se entender. Embora lhes seja completamente indiferente, o que está em jogo é a própria democracia, o que para nós, vítimas desse banditismo engravatado de escritórios de luxo, é a vida que está em jogo. Não apenas a nossa, mas sobretudo a daqueles que nos sucederão. A par do gangsterismo de alto calibre existem os pequenos gangsters, apaniguados daqueles e desejosos de beberem das mesmas taças e sequiosos da sua parte. Para que isso aconteça estão dispostos a tudo. E assim se vão abrindo brechas nos pilares da democracia para que assim possam manter os seus negócios criminosos. Infelizmente, têm sido muitos os pequenos gangsters que tentam lixar-nos a vida. 
A estratégia de aumento de impostos, ou de taxar o que já não existe, não parece assim tão má para quem a aplica e na perspectiva do bom aluno, pois poderá sempre argumentar perante os mestres que fez todos os esforços para atingir os resultados e que só não aconteceu porque os contribuintes são uns preguiçosos e não querem trabalhar.


AS FUNDAÇÕES SEM FUNDADORES
O caso das Fundações para mim, simples e ignorante cidadão, é coisa fácil: fundação pressupõe fundador que doa património para que aquela prossiga determinados objectivos. Tudo o resto não passa de formas de servir interesses pouco transparentes, alimentar vaidades ou bajular poderes que se podem utilizar em devido tempo. Não entendo, acho mesmo um paradoxo, que o Estado tenha Fundações ou os bancos tenham as suas Fundações. Aceito e reconheço que haja grupos de cidadãos que queiram prosseguir determinados objectivos, mas para isso ou têm un fundador que lhes doa o património ou procuram outro tipo de estatuto. Defendo que as Fundações tenham determinados benefícios fiscais, desde que sejam verdadeiras fundações e prossigam objectivos que sejam úteis ao País ou que, em determinadas áreas sejam relevantes para o desenvolvimento do país e da sua cultura. Penso que os benefícios deveriam ser atribuídos por área e não pelo simples facto de serem Fundação. Como está é aberrante que continue.
Cheguei à amarga conclusão que a gente que nos governa, pese embora o uso da bandeirinha na lapela, não tem qualquer sentido do que seja um país. A sensação que tenho é que, para essa gente, país significa um pedaço de terra, povoada de escravos e dominada por meia dúzia de senhores cujo único objectivo é a sua exploração até à exaustão. E nem a CGD, que em princípio deveria ser o motor do senvolvimento económico, parece escapar à voracidade privatizadora. Tinha uma vantagem: acabavam-se as mordomias de alguns amigos. Mas para isso não será necessário tanto, basta vontade e coragem! Será que serão ingénuos ao ponto de pensarem que os interesses do País são coincidentes com os interesses do mundo financeiro ou de outros países compradores? Isto já começa a ser patológico!

Sejam felizes em seara de gente.

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