TEMPOS DE INCONSCIÊNCIA OU DESEJO DE PROTAGONISMO?



Memorial judaico, Berlim
Uma jovem norte-americana tem sido alvo de contestação dos seus seguidores no Twitter por ter publicado uma selfie (a nova moda das redes sociais) tirada no campo de concentração nazi de Auschwitz (Polónia) na qual a jovem ostenta um largo sorriso, complementado por um típico smile na respectiva descrição da mesma.
Nas redes sociais, os locais, os acontecimentos, e mesmo até as pessoas, perdem o seu significado, são esvaziadas do seu conteúdo em troca da notoriedade de um flash. Para esta jovem imagino que Auschwitz não tenha grande significado a não ser o de se ter tornado num local famoso (não interessa o motivo) dando-lhe a ilusão de que também ela se torna famosa apenas porque está lá. É verdade que se trata de uma fama circunscrita à sua rede social de «amigos», mas ,naquele momento, é isso que conta, pois entre o anonimato e uma fama ilusória, os «residentes» das redes preferem sempre a segunda. O que importa não é o passado, ou seja, a memória, o conhecimento, a consciência de si mesmo e dos outros. Nem tão pouco o presente, ou seja, a projecção da memória, mediada pela consciência do presente, no futuro que se pretende construir. A vivência do presente é sempre o passo que nos leva mais além, o passo rumo ao futuro, seja ele qual for ou seja qual for o entendimento que dele tivermos. A construção do futuro exige sempre uma consciência da estrutura que lhe deu corpo, ou seja, do passado e do presente. Ao contrário do que aparenta, nas redes sociais o presente não existe, ele é substituído pelo instantâneo, pela fracção de segundo ou pelas fracções de segundo que se sucedem freneticamente. O importante nessa fracção de segundo não é a vivência (a consciência do presente), mas a rápida comunicação, o flash, dessa ínfima parte do nosso presente, pois só assim nos podemos tornar protagonistas. Neste espaço de comunicação, não existe lugar para a tomada de consciência (processo lento de maturação), apenas o efémero, o transitório, o ilusório, tem lugar. Uma das maiores ilusões é porventura a falsa sensação de não se estar só, de estarmos rodeados de amigos.
Sejam felizes em seara de gente.

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