EUROPA A CAMINHO DO ABISMO....
ERRO ESTRATÉGICO PODE AFASTAR PS DA
FINAL
HIPOCRISIA E INCOMPETÊNCIA OU IDEOLOGIA?
Gostaria de sublinhar algumas
lições a retirar das eleições europeias e do actual momento vivido no seio do
Partido Socialista. Tratando-se de evidências para a maioria das pessoas, a
tendência é desvalorizar já que há quem pense que as evidências são minudências
sem qualquer importância.
1. O PS foi o vencedor das
eleições, não adianta diminuir a vitória ou tentar transformá-la em derrota.
2. A coligação governamental
sofreu uma pesada derrota, o que significa que os eleitores estão longe de acompanhar o governo na sua política de austeridade;
3. Apesar da vitória, o PS não conseguiu ser visto e sentido como alternativa
4. O Secretário-geral do PS não merece a confiança dos eleitores e estes não o vêem como candidato a primeiro ministro capaz de protagonizar uma alternativa séria e capaz.
Estas são evidências sobre as quais caberia ao PS sobre elas reflectir. Ao contrário, a noite eleitoral mostrou, infelizmente, como os actuais dirigentes do PS não têm consciência da realidade que lhes foge. Para além da falta de estratégia ou, se existiu, fora errada, nos timings das intervenções, o discurso foi descabido, auto-centrado e sem qualquer perspectiva crítica. Não basta ganhar eleições, é necessário - imprescindível - que essas vitórias consubstanciem, sem equívocos, uma alternativa credível à política do actual executivo. Para além disso, é indispensável que os eleitores a vejam e sintam como tal. Fazendo uma analogia com o mundo do futebol, diria que o PS apesar das vitórias, arrisca-se a que o resultado seja insuficiente para passar a eliminatória. É isso que eles, por autismo, vaidade ou afeição ao poder, se negam a reconhecer. E os equívocos têm sido muitos e diversos, o último dos quais a discussão da moção de censura apresentada pelo PCP, à qual o líder se recusou assistir por dela discordar. Em democracia, o líder tem que assumir as decisões dos seus pares, explicando-as, dando-lhes corpo e construindo pensamento sobre a realidade. Se assim não for só lhe resta sair.
Uma última nota para a proposta de uma eventual liderança bicéfala proposta pelo actual Secretário-geral: um Secretário-geral, um candidato a primeiro ministro. Em teoria seria uma solução aceitável, já que um bom Secretário-geral não será necessariamente um bom primeiro ministro, sendo o inverso também verdade. Contudo, isso só aconteceria se no interior do partido (deste e de outros) existisse a maturidade democrática suficiente no sentido de os interesses colectivos se sobreporem às vaidades e ambições individuais e que as tendências existentes fossem vistas como contributos para o aprofundamento do debate democrático na procura de soluções colectivas e não, como infelizmente acontece, como posicionamentos de uma luta pelo poder. Por isso, a solução apresentada acaba por ser uma fuga do Secretário-geral ao confronto e ao debate e uma forma, mesmo se disfarçada, de não abdicar do poder. A ironia é que o argumento por ele utilizado de que tem toda a legitimidade porque foi democraticamente eleito - o que é verdade - é o mesmo que ele, enquanto oposição, nega às actuais forças no governo. Coerências!!..Quanto ao coelho tirado da cartola por Seguro de a escolha do candidato a primeiro ministro ser feita por militantes e simpatizantes não me merece qualquer comentário, pois correria o risco de ser muito mal educado e até ofensivo por tão patética proposta se tratar.
Um governo que já por diversas vezes (aliás em todos os orçamentos apresentados) viu medidas serem rejeitadas pelo Tribunal Constitucional, quando era opinião generalizada que também desta vez isso iria acontecer, até pelos avisos anteriores do Tribunal, não se entende a surpresa, na minha opinião fingida. Poder-se-à aventar tratar-se de incompetência, já que o governo foi sempre pelo caminho mais fácil dos cortes e, pior ainda, sofrendo de autismo nunca considerou outras vias como hipóteses aceitando discuti-las. A ausência de uma ideia de futuro, reduzindo toda a sua estratégia ao cumprimento do défice e à submissão cega e provinciana aos ditames da Troika, como se o futuro de um povo, de um país, fosse apenas uma questão contabilística,transformou este governo num teatro de marionetas comandadas por interesses que não os nossos. A imoralidade e a hipocrisia que no seu seio reina, como se o País fosse um feudo de interesses desconhecidos e eles os capatazes,leva-nos a perguntar se será mesmo assim ou se essa dita estratégia, é algo consciente e corresponde a uma teia ideológica. Se assim for, o perigo é maior do que se imagina. Um primeiro ministro que conscientemente, uma vez que foi ele que exigiu a Troika,prometeu o que sabia de antemão que não iria cumprir, não porque não soubesse mas porque essa era a sua estratégia, não merece o respeito dos seus concidadãos.
ELEIÇÕES EUROPEIAS
As eleições para o Parlamento Europeu parecem ter despoletado um terramoto em algumas famílias políticas, nomeadamente na família socialista. Para além das surpresas para alguns, há que sublinhar alguns factos que nos devem questionar e colocar-nos em alerta.
1. ABSTENÇÃO
A elevada abstenção (66,1%, tendo atingido os 87% na Eslováquia), e sem colocar em causa a sua legitimidade, parece-me contudo pouco defensável. Na minha opinião, e embora compreenda serem as motivações diferentes, quem se abstém opta pelo caminho da facilidade, da indiferença, do deixa andar, e não corre o risco de assumir qualquer compromisso. São muitos daqueles e daquelas (perdoem-me os que não se incluem neste grupo) que, quando as coisas apertam nos atiram à cara um "Eu não votei neles". Quem não se compromete foge à responsabilidade, mas será certamente responsabilizado pela degradação da democracia. Ao alhear-se da participação política e cívica (votar não é apenas um direito do qual podemos prescindir, mas um dever cívico que importa cumprir) contribui para a degradação da democracia e cria condições para que aqueles que se aproveitam dos mecanismos democráticos para destruir a própria democracia ocupem o seu espaço e ganhem voz. Respeito, estando ou não de acordo, aqueles e aquelas que afirmam o seu descontentamento votando em branco ou, em determinadas situações, mesmo nulo, porque não prescindiram do seu direito e não se demitiram do seu dever cívico.Os que se abstêm não me merecem respeito, sobretudo porque prescindir de direitos é não se importar com o futuro da democracia.
Ainda no que toca à abstenção, a qual tem vindo a aumentar, é, no mínimo, preocupante ver o ar hipócrita com que os políticos se dizem preocupados, repetindo o discurso de eleições anteriores, quando entre actos eleitorais continuam com o mesmo comportamento. Quando, de forma recorrente, repetem os mesmos discursos sem que da sua parte haja mudanças comportamentais, mais não fazem do que descredibilizar a política e os políticos e, desse modo, tornam-se os principais responsáveis pela degradação da democracia.
2. CRESCIMENTO DA EXTREMA DIREITA, DOS MOVIMENTOS NACIONALISTAS E DOS MOVIMENTOS ANTI-EUROPEUS
O crescimento da extrema direita na Europa é um dado bastante preocupante. Tentar desvalorizar, como já ouvi, dizendo que continuam a ser minoritários no Parlamento é ignorar o problema, não ter consciência dos riscos, não ter consciência da História e desresponsabilizar-se do caminho trilhado nos últimos anos não assumindo os erros. Esta é uma Europa autista, pouco solidária, que se recusa a ouvir e a perceber a realidade em nome dos interesses de alguns, os poderosos. Os actuais líderes europeus, sem visão e sem qualquer projecto para a Europa dos povos, conduzem-nos para um abismo cujas consequências podem ser dramáticas. Se a isto juntarmos - embora com grau de risco diferente - a subida de partidos radicais anti-europeus de esquerda e partidos independentistas, percebemos que a Europa se encontra numa encruzilhada resultante da insegurança e da desconfiança das quais os seus líderes são os principais responsáveis. Sabe-se hoje demasiado sobre a crise e as soluções adoptadas e a quem isso beneficiou para que nada seja feito e tudo continue como antes. Alguns dos países continuam a impor as suas regras, porque não existe um verdadeiro governo europeu e porque não existe um verdadeiro orçamento europeu. Não são os países que devem ser contribuintes, mas sim os seus cidadãos. Infelizmente, as vozes que se foram ouvindo, mesmo após as eleições, não auguram nada de bom.
Sejam Felizes em Seara de Gente.
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