OS LÍDERES QUE NOS GOVERNAM

1. ELEIÇÕES EUROPEIAS

Seria bom que as eleições europeias, que terão lugar no próximo mês de maio, se centrassem realmente no que é importante, ou seja, em questões europeias e não nas pequenas questiúnculas da política interna, por mais importantes que sejam e são-no certamente. Contudo, importa não esquecer que a Europa é hoje fortemente atuante nas políticas nacionais e que, por esse motivo, é um assunto que a todos diz respeito. Sabendo nós que os partidos têm ideias diferentes sobre a Europa e sobre determinadas questões em particular, seria para todos benéfico que expusessem muito claramente as suas ideias e propostas. Conscientes de que a nossa capacidade de influência na Europa é restrita e limitada, a verdade é que essas limitações não nos devem condicionar ao ponto de adoptarmos uma atitude de perfeita servidão, como tem acontecido com este governo, face aos poderes instituídos. Pessoalmente, não pretendo falsos líderes que, por não o serem, criaram as condições ideais para que a extrema direita xenófoba ganha terreno; não pretendo que uma direita que sobrevaloriza o mercado e menospreza as pessoas nos continue a governar; não pretendo líderes que por lhes faltar uma visão solidária coloquem em risco a construção europeia; finalmente, não pretendo líderes que não respeitem as instituições europeias e que pensam poder decidir entre eles a vida de todos os cidadãos europeus.

2. O MILAGRE PORTUGUÊS

Num período em que se vive crise profunda, não compreendo como é que as prestações não contributivas - o abono de família, o complemento solidário para idosos e o rendimento social de inserção – perderam 87 mil beneficiários num só ano!? Será este o milagre – porque parece mesmo – de que o governo tanto fala, ou seja, que no espaço de um ano estes 87 mil pobres passaram a bem remediados ou ricos? Olhando para esta informação, deve andar enganado, pois a pobreza segundo o governo em vez de aumentar (como todos pensam), afinal tem diminuído (como o governo mostra). O mote de tal milagre é simples de entender: como a austeridade comanda, não há, para resolver o problema, como excluir mais alguns. São dos mais necessitados? Pouco importa, a austeridade e troika mandam. Na verdade, as opções do governo são mais do que mera aritmética, elas correspondem a opções ideológicas e preconceituosas face a determinadas franjas da sociedade.

3. MIRÓ E A (IN)CULTURA DOS LÍDERES

Faz parte do senso comum a ideia de que a cultura não dá de comer a ninguém e qualquer dinheiro nela gasto é um desperdício que apenas serve para alimentar uns quantos amigos do poder instituído. Contudo, as pessoas gostam de ouvir música, ver teatro, ir ao cinema… Mas a cultura é qualquer coisa de vago, quase esotérico, qualquer coisa de artistas, gente nem sempre muito recomendável. Este é o senso comum, ou seja, a ideia que o comum dos portugueses tem da cultura. Contudo, também sabemos que o senso comum, na maioria das vezes, porque tem ideias erradas nem sempre (ou nunca) é bom conselheiro. Por outro lado, para a direita neoliberal, fiel ao mercado, a cultura é olhada, não como memória ou construção colectiva, mas como um produto sujeito às leis do deus mercado. Para a esquerda, a cultura é espaço de luta e arma de arremesso contra uma direita que é julgada ignorante e anti-cultura. Para a esquerda, e em nome da cultura, nela parece caber tudo o que escape às leis do mercado. Muitas vezes a qualidade é diretamente proporcional à quantidade dos recursos consumidos. Isto não significa que em cada um dos grupos não haja gente preocupada e com ideias e estratégia para uma verdadeira política cultural, concorde-se ou não com ela. O problema está que no palco da luta política e no confronto de ideias, as questões sobre a cultura não são levadas muito a sério. Atente-se, por exemplo, na passagem da cultura de Ministério a Secretaria de Estado. E isto são opções que não se prendem sobretudo com orçamento, mas com ideias que se têm ou não têm sobre uma política cultural e uma estratégia para a implementar. A ideia de que a cultura não é rentável é errada e é reveladora de uma série de preconceitos. Pode não ser fácil de avaliar a sua rentabilidade, mas pensem, por exemplo, o que faz as pessoas visitarem as cidades e quando nelas se encontram o que procuram. Há produtos resultantes de uma política cultural que podem integrar-se nas leis do mercado, mas a cultura nunca, porque ela é para verdadeiros investidores e não para especuladores de pacotilha.

A polémica à volta dos quadros de Miró revela precisamente isso mesmo: ausência de política cultural e estratégia.

Sejam felizes em seara de gente.

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