UM PAÍS FAZ DE CONTA

Há quem tenha uma imaginação bastante fértil - diria antes pérfida - quando se trata de esconder os seus próprios fracassos ou pretender atribuir a outros as causas do seu insucesso. Pouco importa o que os outros pensam ou fazem salvo quando nos podem ser úteis na estratégia desenhada, ou seja, quando de forma perversa tentamos transferir para os que antes ignorámos parte da responsabilidade que nos cabe por incompetência nossa ou arrogância, mesmo se disfarçada. Passos, qual D. Afonso Henriques dos novos tempos, descobriu-se agora como o porta-estandarte do desígnio da refundação da Pátria. Não se trata, como seria de supor e como bem achariam tão nobres gentes, de acto de nobre coragem contra um qualquer domínio estrangeiro, mas contra o seu próprio povo a mando de um determinado domínio estrangeiro não outorgado. O que que, na linguagem da história deste nobre povo, tem o nome de traição à Pátria. Pouco importa a roupagem ou as eventuais circunstâncias atenuantes perante o julgamento do nobre povo indignado. Traição é traição e não merece qualquer tipo de comiseração.
Na verdade, somos um país faz-de-conta, onde os governantes fazem de conta de que estamos no caminho certo e onde nós, embora sabendo do embuste, fazemos de conta acreditar. É um país onde há gente que finge ser empresário e faz de conta estar preocupado com o país, mas que são lestos a estender a mão à esmola do Estado ou, na primeira oportunidade, a extorquir-lhe até o que não possui. Fazem de conta estar prontos para enfrentar a concorrência, mas logo se arrogam o direito de viver à custa dos salários daqueles que apenas fingem viver. Há quem faça de conta ser oposição, plantando aqui e acolá uma pequena árvore, mas não arriscando uma nova plantação. E no meio deste jogo do faz de conta há quem não tenha força e esteja cada vez menos disposto a jogar um jogo cujas regras desconhece e jogado por trapaceiros desleais. Infelizmente são muitos! Mesmo que haja quem jure a pés juntos que ainda aguentam continuar a jogar o jogo.
Neste jogo do faz de conta, os acólitos troikianos fingem ser o verdadeiro poder e tudo decidir e o governo do faz-de-conta finge negociar com os soberanos quando apenas lhe é permitido entrar na antecâmara do chefe dos acólitos.
O governo faz-de-conta, acreditando no conto de fadas que lhe contam os acólitos troikianos mandatados pelo poder soberano, acha que tudo se resolve com umas continhas de somar e subtrair, desde que os soberanos continuem a somar e às gente que finge viver se continue a subtrair. E assim fingem os soberanos ser solidários extorquindo a uns para que outros redistribuam pelos que fingem estar preocupados com as pobres gentes.
E assim se vive no país do faz-de-conta até ao dia que as pobres gentes se cansem de uma vida fingida.
Tentem ser felizes em seara de gente e levem a sério este jogo do faz-de-conta.

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