LEGITIMIDADE DE UNS .... ILEGITIMIDADE DE OUTROS...

De uma vez por todas, entendamo-nos sobre a legitimidade de uns e a ilegitimidade de outros. Ou eu sou muito bronco ou esta é a discussão mais patética a que nos últimos tempos assisti. Primeira pergunta: cabe ou não aos deputados, enquanto eleitos pelo povo e seu legítimos representantes, encontrar as soluções adequadas para os problemas do país?! É ou não um problema a coligação não conseguir encontrar uma maioria que a suporte? São ou não são os deputados que conferem legitimidade às soluções encontradas? Se a resposta a estas perguntas for afirmativa, como julgo que qualquer democrata o fará, não entendo qual o sentido da discussão sobre a legitimidade ou ilegitimidade. Primeiro, qualquer partido representado na assembleia terá legitimidade para governar se essa mesma legitimidade lhe for conferida pelos seus pares. O voto do povo apenas tem tradução na eleição dos deputados e não na eleição de um primeiro-ministro, seja ele qual for. É verdade que a coligação teria legitimidade para governar se (e aqui reside a questão e o imbróglio) os seus pares lhe conferissem a legitimidade que o povo lhe negou. Falando uma linguagem muito cara à direita, digamos que para formar sociedade teria que ter mais do que um sócio e, infelizmente para ela, não o conseguiu, uma vez que o povo apenas se dispôs a colocar uma parte do capital. Há três coisas que incomodam verdadeiramente a direita:
1. que o PS se tenha recusado a ser seu sócio, a conferir-lhe a legitimidade que lhe faltava, o que ela julgaria serem «favas contadas»;
2. que a solução agora encontrada resulte, porque era o fracassar de todo um discurso. Não é por acaso que já pedem eleições antecipadas;
3. mais do que ter perdido o poder é o de não ter terminado a sua tarefa, ou seja, entregar na mão dos interesses económicos dos privados o que resta do estado.
Aliás, também tenho dificuldade em compreender a violência da reacção da direita, sabendo ela que só poderia governar com a legitimidade conferida pelo PS e que seria tão legítimo o PS tê-lo feito, como, tal como veio a acontecer, não o ter feito. De repente , para a direita parece não terem passado 40 anos de história democrática, despertando fantasmas que só ela continua a imaginar, o que prova que está numa atitude revanchista, vingativa e antidemocrática, disposta a incendiar o país. 
Ao contrário do que alguns propagam, não se violaram tradições, porque elas não existem. O que existe é o historial de circunstâncias que conduziram repetidamente a determinadas soluções. Também não se trata de convenções, porque para que aquelas existam seria necessário que existisse acordo entre as partes que tenham decidido convencionar determinadas «regras».
Nada foi violado, apenas se respeitou a democracia.
Sejam felizes em seara de gente.

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