HÁ GENTE QUE NÃO APRENDE...
EXECUÇÃO ORÇAMENTAL
Há pessoas para quem tudo o que lhes acontece é sempre culpa e da responsabilidade dos outros. Nunca, em momento algum, param para pensar se terá havido um momento nas suas vidas, por pequeno que tenha sido, em que elas poderiam ter mudado o rumo das suas vidas. Uma vez que a vida se faz de opções e há sempre uma que se toma em detrimento de outras, o problema não é errar - é natural e faz parte do nosso crescimento enquanto seres humanos -, mas antes não ter consciência do erro, das suas consequências e incapacidade para reflectir sobre as incidências da opção tomada. As razões que nos levam a tomar determinada opção, num determinado momento, fundamentam-se em variáveis diversas, mas que, devidamente analisadas, nos levam a optar sempre por aquele que nos parece o melhor caminho. Uma outra questão, também ela importante, prende-se com os critérios de análise das variáveis, já que eles dependem da nossa leitura sobre a nossa própria experiência, dos nossos valores, da forma como olhamos para a realidade, da forma como nos situamos na comunidade e no mundo e também de que forma somos ou não capazes de projectar o nosso futuro como fazendo ou não parte do futuro colectivo da comunidade em que nos inserimos. Ter capacidade para reflectir sobre a vida, amadurecer, caminhar para a sapiência é um acto permanente de nos questionarmos e nos deixarmos interpelar pelo outro e pela sua diferença. Infelizmente, há pessoas que, por razões muito diversas, são incapazes de tal atitude. Por isso, e ao contrário do que é o senso comum, o importante não é a experiência, mas a consciência que se tem dessa experiência. E isso nada tem a ver com instrução académica ou com títulos honoríficos. Como dizia a minha avó materna, há pessoas que, mesmo que vivessem 300 anos, nada aprenderiam com a vida.
Vem isto a propósito - ou despropósito, dependendo do ângulo de visão - dos dados da Execução Orçamental dos primeiros sete meses do ano e das reacções dos membros do governo. Em momento algum se interrogam sobre as opções tomadas, atribuindo às decisões do Tribunal Constitucional a responsabilidade da derrapagem nas Contas. O problema, é que os dados, fazendo fé nas notícias dos jornais, desmentem por completo essa tese.
- Deduzida a componente juros e gastos com pessoal (resultante da decisão do Tribunal Constitucional), nos primeiros sete meses a despesa cresceu 2%, ou seja, mais 618 milhões face ao mesmo período do ano anterior.
- No Documento de Estratégia Orçamental e no Orçamento, para 2014, apontava-se para uma redução de 1,5% da despesa, excluídas as componentes de juros e salários (redução de 3,1% no total). Esta redução, nos primeiros sete meses, representaria cerca de 462,4 milhões.
- Combinando estes dois dados, existe uma diferença (desvio) de cerca de 1080 milhões de euros.
- O agravamento da situação só é amenizado - e estou a ser irónico - pelo crescimento da receita fiscal (1,7% face a igual período do ano anterior), ou seja, pelo aumento dos impostos. Aliás, esta é a única coisa que o governo faz "bem feita".
Por isso, o governo é como aquelas pessoas que, por mais longa que seja a sua vida, nunca aprenderão nada com ela.
Sejam felizes em seara de gente.
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