MADIBA

Morreu Nélson Mandela, uma das grandes referências não apenas do Continente Africano, mas de todo o mundo. Como é natural a sua morte deu origem às mais variadas e sinceras, umas mais que outras, manifestações de carinho, respeito, apreço, elogio e homenagem a um dos grandes Homens do século XX. Mas ela trouxe também à tona, consciente ou não, algum aproveitamento político de lutas antigas, feridas não saradas ou avivadas por situações e comportamentos do presente. O pragmatismo diplomático não assenta em direitos, mas em relações de poder com as quais nem sempre nos identificamos. À boa maneira americana, acima de qualquer direito está o interesse da América e, se por acaso, forem coincidentes, tanto melhor. Creio que muitos dos que agora elogiam a personagem e o comportamento de Mandela não se reveem naquilo que ele foi ao longo da sua vida. Uns rever-se-ão mais na fase antes da prisão, outros porventura fundamentam o carinho e o respeito no longo período em que esteve preso, outros ainda se identificarão mais com a fase pós-prisão, ou seja, com o Estadista. Mas não sei se haverá muitos que o admiram como um todo, ou seja, um ser com contradições, determinado, audaz, mas que foi aprendendo e evoluindo ao longo da sua vida, acabando por dar ao mundo uma verdadeira lição com a qual, julgo eu, poucos se identificarão na prática. Por isso mesmo, me parece que a maioria das declarações são apenas de circunstância, embora não deixem de ser importantes. Mas tudo isso é muito pouco para que se honre a sua memória. A melhor forma de honrarmos e respeitarmos a memória de alguém é, no mínimo, não traí-la e tentar, pelo menos isso, apreender do exemplo ensinamentos para a nossa vida. Ora é precisamente aí que a porca torce o rabo. Para quem desconhece a biografia de Mandela, o facto que mais ressalta é o de alguém que após ter vivido 27 anos encarcerado é capaz, em nome de valores fundamentais, perdoar aos seus próprios carcereiros para, em conjunto, construírem um futuro colectivo. Perdoar a alguém que nos roubou 27 anos da nossa vida não será fácil para ninguém, mas assumir o risco de com os «inimigos» construir um futuro comum, isso é apenas dom de muito poucos. E Mandela teve esse dom, o de perdoar. Perdoar não é, como por aí já vi escrito, esquecer e, muito menos, desculpar. Perdoar é assumir o risco de com outros que nos traíram ou maltrataram fazer um caminho comum; é guardar um lugar na mesa para aqueles que outrora nos negaram o pão. Trata-se de um caminho construído na diferença, na luta quotidiana, sobretudo contra aquilo que em nós (válido para todas as partes envolvidas), e a qualquer momento, nos pode trair: o passado. Ora Madiba, sem esquecer ou ignorar o passado, foi capaz de retirar dele o essencial que lhe permitisse construir um mundo novo. Ele percebeu, durante o cativeiro, que só perdoando seria possível recomeçar. E essa é a grande lição que dificilmente nós, que agora o elogiamos, um dia seremos capazes de aplicar. Talvez por isso o significado de Madiba seja Reconciliador.
Ninguém nasce odiando outra pessoa
pela cor da sua pele,
ou pela sua origem, ou religião.
Para odiar, as pessoas precisam de aprender
e se elas aprendem a odiar,
podem ser ensinadas a amar,
pois o amor chega mais naturalmente
ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta,
jamais extinta.
SONHO COM UMA ÁFRICA EM PAZ CONSIGO MESMA!
(Nélson Mandela)
Sejam felizes em seara de gente.

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