CONSELHO DE ESTADO
A reunião do Conselho de Estado convocada pelo Presidente e tendo como mote o Portugal na pós Troika, foi não apenas um triste e inútil espetáculo, mas também um momento degradante da democracia portuguesa. A responsabilidade é, em primeiro plano, do próprio Presidente da República, sobretudo devido aos equívocos que ele próprio criou, desde logo pela escolha da agenda, mas também devido à forma como a sua comunicação chegou aos conselheiros ou, pelo menos, a alguns. Acresce ainda o facto de esta sua opção dar a entender que o Presidente foge da possibilidade de se ter de confrontar com a realidade do País e preferir fingir ignorar essa mesma realidade. Cavaco Silva, ao escolher como tema da agenda o pós Troika, mostrou de uma forma muito clara não estar interessado no confronto com o governo, antes pelo contrário, acabou por conceder o seu aval à política do atual governo ao mesmo tempo que lhe concedia a chancela da inevitabilidade. Pior que isso, tentou usar o Conselho de Estado, ao impor-lhe uma agenda fora da realidade atual, para confirmar esse mesmo aval.
O segundo plano de responsabilidade cabe aos próprios conselheiros ou a alguns deles, já que não serão alheios ao desprestigiar crescente do Conselho de Estado. É difícil entender, a não ser por vaidade ou narcisismo, que alguns conselheiros se permitam tecer toda a espécie de comentários antes e depois da referida reunião. Essa sua postura mostra, por um lado, a falta de respeito pelo Órgão e pelos restantes membros, mas, por outro, ilustra também o grau de menoridade que lhe atribuem, colocando-se eles próprios num patamar de superioridade. Gente assim, embora seja do agrado das audiências, desprestigia a democracia e não merecem o grau de conselheiros.
Aliás, neste momento difícil se torna perceber o objetivo do Conselho de Estado, sobretudo quando se desvirtua a sua verdadeira função, tal como o Presidente o fez e alguns conselheiros o têm feito. Pessoalmente, tenho muitas dúvidas quanto à sua composição, sobretudo quando dele fazem parte pessoas com interesses diretos ou indiretos na política atual. Supostamente, seria um Órgão onde deve coabitar o bom senso, a maturidade política e a visão de futuro, características muito mais próximas de pessoas com experiência, com provas sobejamente dadas na sociedade, idóneas, discretas e não um aglomerado de interesses diversos e também, por vezes, de conveniências pessoais. Pergunto-me, embora possa imaginar, os conselhos que alguns deles darão ao Presidente!…
Sejam felizes em seara de gente.
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