PERGUNTAS PATÉTICAS E RIDÍCULAS

Imagino que na cabeça de cada português, homem ou mulher, sejam muitas as perguntas sem resposta ou cujas respostas estejam longe da compreensão do cidadão ou, ainda, revelem apenas o tamanho da incoerência das gentes que nos governam. Também na minha cabeça são muitas as perguntas que fervilham para as quais continuo à espera de respostas que satisfaçam a minha curiosidade ou, no mínimo,   revelem coerência e algum sentido lógico. Aqui ficam algumas das muitas que me ocorrem. Podem parecer demagógicas ou mesmo patéticas, mas tentar encontrar respostas pode ser um bom exercício de reflexão crítica. 

1. Se existe quase unanimidade - salvo os pedintes de profissão - em considerar a revisão do Código de Trabalho como não sendo um factor determinante para o aumento da competitividade e do crescimento económico, por que diabo a insistência em levar por diante tamanho disparate? Pergunto ainda: será o papel do Presidente da República o de ser apenas caixa de ressonância dos deputados ou o de saber ouvir o grito daqueles que representa?

2. Será que os nossos governantes estão mesmo convencidos de que é possível construir um país próspero e coeso com base em baixos salários? Ou será que com a venda da energia aos chineses o pacote incluía a importação da desregulação social e salarial que impera nesse país?

3. Se há quem se apresse a culpar os cidadãos pelo endividamento do País - vivemos acima das nossas possibilidades - por que razão não têm eles a mesma urgência em condenar aqueles que enriqueceram à custa do nosso endividamento e que, prometendo-nos o céu, tanto se esforçaram para obterem prémios e lucros tão chorudos?

4. Sendo a Alemanha considerado um país rico, onde a «justa» redistribuição de riqueza produz 12 milhões de pobres (um dos países considerados ricos onde a pobreza mais aumentou) e onde os números de pobreza infantil são considerados alarmantes, por que carga de água é vista como modelo por muitos dos governantes da Europa? É esse o modelo que pretendem para a Europa? É esta a solidariedade da Alemanha para com os outros países europeus?

5. Sabendo nós que a confiança para que exista terá que ser um sentimento ou um estado recíproco (é biunívoca e não unívoca), por que diabo estamos tão preocupados com a confiança que os mercados têm ou deixam de ter em nós?  Seremos nós europeus incompetentes ao ponto de deixar que os especuladores decidam o nosso futuro? Trata-se de confiança ou poder e controlo (descontrolo, diria eu)? Recordam-se há umas décadas da discussão sobre a dívida do então Terceiro Mundo e a forma como ela servia para os países ricos (credores) colocarem no poder governantes que lhes fossem fiéis e dos juros devidos manterem esses países sob a alçada dos credores? Não será que a lógica dos abutres dos mercados - a lógica liberal - a mesma, apenas adaptada às circunstâncias?

6. Se um médico, apesar dos efeitos contraproducentes da terapia aplicada, continuasse a insistir nela ao ponto de deixar o paciente incapacitado ou mesmo roubando-lhe a vida, que diríamos nós de tal profissional? Será que do ponto de vista político o momento é muito diferente?

7. Se é verdade que o ensino está tão mal - e eu sou daqueles que penso que está mal - por que razão é este um dos momentos em que a ciência, a investigação e a tecnologia melhores resultados tem alcançado?

Temos o direito, e também o dever, de questionarmos as opções de quem nos governa sobretudo quando corremos o risco de essas opções marcarem definitivamente o futuro próximo e das gerações vindouras.
Sejam felizes em seara de gente, sem receio de vos parecerem patéticas ou ridículas as questões que pela cabeça vos passam. Patéticos e ridículos são aqueles que insistem no erro como verdade absoluta, apesar de todas as evidências contrárias.

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