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A mostrar mensagens de março, 2012

DEMOCRACIA AO PÉ-COXINHO

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A democracia, à semelhança de outros fundamentos das sociedades, não se instaura apenas por decreto. A sua força depende muito pouco dos decretos, sendo estes não mais do que uma exigência da prática e exigências democráticas. A prática democrática é uma aprendizagem quotidiana que não se compadece com o "faz-de-conta". Ninguém se torna democrata com um simples estalar de dedos. O "faz-de-conta" é confundirmos a vivência num regime democrático - em que os pilares essenciais funcionam - com a prática democrática. Pensarmos que podemos fazer o que nos dá na real gana a coberto desse regime democrático. E quando escrevo isto, estou a pensar na sociedade como um todo, desde aqueles que têm responsabilidades políticas até ao simples cidadão, passando pelos poderes intermédios e poder económico e financeiro. Não é apenas a degradação económica que atinge o país, mas sobretudo a degradação da própria democracia, as quais - ao contrário do que nos querem fazer crer - nã...

CONSENSO: AMPUTAÇÃO DA DEMOCRACIA?

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H á já alguns anos participava eu numa reunião internacional quando fui  surpreendido pela ousadia de um dos participantes que defendia uma espécie de teoria do não-consenso  como forma de aprofundamento da democracia. Dizia ele que o problema é que tínhamos sido treinados e habituados a tomar decisões por consenso em detrimento do não consenso. Esta ideia ficou-me registada na memória e várias foram as vezes que a ela voltei, embora esbarrando sempre na dificuldade em ultrapassar a diversidade do não consenso enquanto legitimação de uma decisão. Na verdade, o consenso parece ter-se instituído como medida da qualidade das nossas democracias. Atente-se nas comparações entre a crise grega e a crise portuguesa e a importância da existência ou não de consenso entre as partes políticas. O consenso minimiza o risco da explosão social. Ao contrário, parece haver pavor do não consenso (desconsenso!), da afirmação da diferença e da discordância. Contudo, é na afirmação da diferença,...

HÁ PESSOAS QUE NÃO ME MERECEM CRÉDITO

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S e há pessoas a quem não dou muito crédito e, mais do que isso, de quem muito desconfio, são aquelas que pensam ter-se construído a si próprias e que aquilo que elas são ou aquilo em que se tornaram apenas a si mesmas o devem. Trata-se de pessoas que dificilmente reconhecem o espaço do outro e, quando o reconhecem, é sobretudo para reforçarem ou individualizarem ainda mais o seu próprio espaço. Esperam pacientemente, nem sempre de forma sensata, uma qualquer escorregadela do outro para que dela possam retirar proveito, mesmo tendo antecipadamente a percepção clara que a escorregadela seria inevitável. Por vezes são elas próprias que, de forma disfarçada e cínica, deixam no caminho a casca de banana. Falta-lhes também a coragem para assumirem os intentos ou os erros, embora destes últimos se pensem deles arredados. Não me merecem crédito pessoas que tenham dificuldade em reconhecer a participação do outro na sua construção e afirmação como pessoa, já que essa atitude me...

ORGANIZAÇÃO? ESSE É O NOSSO FORTE.

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A o contrário da grande maioria, eu penso que somos uma país romanamente organizado. Duvido - tenho quase certezas - de que seja a melhor das organizações, mas que somos peritos em organização, lá isso somos! Somos tão organizados que perdemos imenso tempo com inutilidades organizativas. Ou então, pretendemos uma organização tão perfeita que tropeçamos amiúde nas imperfeições - que são muitas - da nossa organização. O problema é que nós teimamos em fundar o nosso tipo de organização na acção legislativa - necessária - e em procedimentos, em vez de a fundarmos na flexibilização, agilização, eficiência e, sobretudo, responsabilização. Por isso, criamos burocracia e azucrinamos a cabeça do incauto cidadão em vez de lhe facilitarmos a vida e o obrigarmos, também a ele, a ser mais eficaz e eficiente. Divirtam-se com um pequeno exercício, é um pouco demagógico- diria caricatural -, mas ajuda-nos a tomar consciência de alguns dos nossos problemas. Para cada um dos itens que lhe ...

A CUNHA: ECONOMIA DE TROCA OU ECONOMIA RELACIONAL?

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N o mundo do trabalho - e também nos negócios - as relações são um meio importante para atingir determinados objetivos. É assim no nosso país como em qualquer outro. A única coisa que muda é a cultura que sustenta esse tipo de relações e as regras - ou ausência delas - pelas quais se regem. Porque na verdade todas as relações, mesmo as mais próximas, se regem por regras, implícitas ou explícitas. A este tipo de relações há quem lhe chame «capital relacional» ou «capital social», que não o capital social a que as empresas estão obrigadas. É também por essa razão que a situação dos desempregados, sobretudo dos desempregados de longa duração, é ainda mais dramática, pois perderam parte desse capital relacional. Pela mesma razão pessoas há que preferem estar no mercado de trabalho em situação de desvantagem, ganhando menos ou até, às vezes, com prejuízo financeiro. Esperam ganhar em capital social o que perdem em capital financeiro, esperando receber mais tarde, com juros acres...