Festejar Abril: Afirmar a democracia
Banda Desenhada editada pela
Câmara Municipal de Santarém, 1999,
com ilustrações de António Martins
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O 25 de Abril deve ser comemorado e, cada à sua maneira em tempo de pandemia, deve ser festejado. Tratando-se de uma comemoração, esta serve para nos recordar, por um lado, esse marco histórico coletivo que determinou e moldou o nosso presente e, por outro lado, desperta-nos para o facto - fortalece-nos a consciência - de que o caminho então iniciado deve continuar a ser percorrido sem que na caminhada percamos o que de mais precioso abril nos trouxe: a Liberdade.
Comemorar Abril alerta-nos para a impossibilidade de darmos como garantidas a liberdade e a democracia e que as concessões que porventura se vão fazendo abrem brechas no edifício democrático sempre sujeito às investidas dos oportunistas que dele tiram partido. Quem nega festejar Abril nega na verdade a democracia e a liberdade que lhe permitem ter voz e espaço público. E acredito que haja muitos que não desejem comemorar essa data, expressem-no abertamente ou com alguma cobarde parcimónia. Se assim é, escusado seria ancorarem a sua cobardia na pandemia que todos vivemos. O lógico seria que se discutissem as medidas e a forma como decorreriam as comemorações, mas nunca uma negação das mesmas. Por isso a polémica criada é uma autêntica patetice que apenas serviu para nos mostrar a impreparação de muitos para viverem em democracia. Diga-se, em abono da verdade, que o Presidente da Assembleia também em nada ajudou a serenar os ânimos e a colocar as coisas no devido lugar. Pelo cargo que ocupa é-lhe exigida maior tolerância e gestão das emoções. Todos temos o direito a comemorar e, por isso mesmo, muitos de nós em tempos normais integraríamos as várias manifestações festivas ou participaríamos em eventos.
Só que os tempos actuais têm muito pouco de normal, não impedindo essa anormalidade que na Casa da Democracia, onde está quem nos representa, possam aqueles em nosso nome assinalar a data. Estranho seria que no dia da Liberdade a Assembleia, que se tem mantido aberta cumprindo as regras determinadas pela DGS, fechasse e não comemorasse o que muitos portugueses - nos quais me incluo - desejariam fazer. Seria extremamente grave abrir um precedente - uma brecha na nossa democracia - que outros, estou certo, estarão desejosos que acontecesse por lhes ser mais fácil, no futuro, justificar o injustificável.
Incomoda-me ainda mais que pessoas que se dizem de esquerda tenham dificuldade em aceitar delegar em quem os representa as comemorações que estão impedidos de fazer. Não se trata de festejos, mas apenas de assinalar uma data segundo um ritual estabelecido há anos. E os rituais são importantes enquanto símbolos identitários de um coletivo. Podemos questionar-nos se a fórmula continua a ser a mais adequada aos dias de hoje ou às circunstâncias atuais, mas nunca em nome desse questionamento ou desacordo negar o assinalar de uma data que afinal nos permite toda esta patética polémica. Esta polémica permite-nos perceber que afinal a nossa democracia é bem mais frágil do que aparenta, já que a facilidade com que fazemos concessões e abdicamos dos símbolos coletivos mostra o quanto ainda somos imaturos ao vivermos a liberdade.
Tentem ser felizes em liberdade.
Comemorar Abril alerta-nos para a impossibilidade de darmos como garantidas a liberdade e a democracia e que as concessões que porventura se vão fazendo abrem brechas no edifício democrático sempre sujeito às investidas dos oportunistas que dele tiram partido. Quem nega festejar Abril nega na verdade a democracia e a liberdade que lhe permitem ter voz e espaço público. E acredito que haja muitos que não desejem comemorar essa data, expressem-no abertamente ou com alguma cobarde parcimónia. Se assim é, escusado seria ancorarem a sua cobardia na pandemia que todos vivemos. O lógico seria que se discutissem as medidas e a forma como decorreriam as comemorações, mas nunca uma negação das mesmas. Por isso a polémica criada é uma autêntica patetice que apenas serviu para nos mostrar a impreparação de muitos para viverem em democracia. Diga-se, em abono da verdade, que o Presidente da Assembleia também em nada ajudou a serenar os ânimos e a colocar as coisas no devido lugar. Pelo cargo que ocupa é-lhe exigida maior tolerância e gestão das emoções. Todos temos o direito a comemorar e, por isso mesmo, muitos de nós em tempos normais integraríamos as várias manifestações festivas ou participaríamos em eventos.
Banda Desenhada editada pela
Câmara Municipal de Santarém, 1999,
com ilustrações de António Martins
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Incomoda-me ainda mais que pessoas que se dizem de esquerda tenham dificuldade em aceitar delegar em quem os representa as comemorações que estão impedidos de fazer. Não se trata de festejos, mas apenas de assinalar uma data segundo um ritual estabelecido há anos. E os rituais são importantes enquanto símbolos identitários de um coletivo. Podemos questionar-nos se a fórmula continua a ser a mais adequada aos dias de hoje ou às circunstâncias atuais, mas nunca em nome desse questionamento ou desacordo negar o assinalar de uma data que afinal nos permite toda esta patética polémica. Esta polémica permite-nos perceber que afinal a nossa democracia é bem mais frágil do que aparenta, já que a facilidade com que fazemos concessões e abdicamos dos símbolos coletivos mostra o quanto ainda somos imaturos ao vivermos a liberdade.
Tentem ser felizes em liberdade.
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