Os vários casos de corrupção nunca julgados, eternamente adiados ou sem culpa provada que ao longo dos anos foram sendo noticiados, conhecidos ou apenas referidos de passagem, dos quais o BPN - fruto das circunstâncias políticas e económicas e das consequências imediatas para o bolso de todos nós – tem sido o mais mediático e caricato, mostra como a esfera do poder político e do poder económico – que tantas vezes se confundem – se movem em terras pantanosas e de areias movediças e para onde arrastam todo um povo negando-lhe o futuro a que tinha direito. Ao longo das últimas décadas, muito à sombra dos dinheiros europeus, esta gente ligada ao poder e todos aqueles que à sua volta sempre gravitaram foram construindo uma teia gigantesca de promiscuidade, compadrios e troca de favores da qual dificilmente nos veremos livres nos próximos anos. Uma espécie de Máfia de cujos tentáculos duvido suspeitemos e cujo rosto do padrinho (ou padrinhos) ignoramos por completo. Gente sem princípios, sem referências, não olhando a meios, apenas interessada no poder e nos benefícios que ele lhe pode trazer. E para os lacaios que no poder não terão oportunidade de se sentar, haverá sempre os restos e as migalhas que caiem da mesa do poder. O caso BPN ilustra na perfeição o pântano em que a classe dirigente - política e económica – se move. Não apenas airosamente se move, mas faz disso o seu currículo, apesar de, por oportunismo, o tentarem esconder. Uma classe filha do movimento yuppie de outros tempos gloriosos, de fartura e de pança cheia, cujo tempo parece ter varrido da memória. Continuo a perguntar-me como é possível que tão «boa gente» tenha aceite, com a maior das naturalidades, ganhar rios de dinheiro num período curto de tempo sem se interrogar ou suspeitar do que quer que fosse. É evidente que a supervisão não pode ser ilibada da responsabilidade que lhe cabe, mas que diabo, que eu saiba alguns desses senhores eram conhecedores da matéria. Por que pretendem agora fazer o papel de vítimas ou de virgens ofendidas? Por que será que, neste caso concreto, ninguém esteja muito interessado em seguir o rasto do dinheiro? Para mim, e imagino que para muitos, é incompreensível que o Estado não queira recuperar o que lhe pertence (o que nos pertence), por respeito a todos os contribuintes e por respeito próprio daqueles a quem compete cumprirem dignamente as suas funções. O problema é que tudo isto é natural. A lei acoberta todos os comportamentos, mesmo os mais duvidosos. Não existe ética, nem princípios morais, apenas a lei. A lei é o bastante, porque quem faz a lei é quem, simultaneamente, se aproveita dela. Observem nas respostas mais utilizadas quando algum desses senhores é apanhado numa situação menos clara: «Não fiz nada de ilegal…»; «Não existe qualquer incompatibilidade…»; «Não existe nada de ilícito…». Quanto à ética e à moral, são princípios fluidos que, perante a lei, não têm qualquer valor ou existência. E como eles são peritos em driblar a lei!…
Esta Mafia que se criou à volta dos dinheiros vindos da Europa, à volta do Estado, espécie de polvo cujos tentáculos chegam ao mais recôndito dos poderes, tem o desplante em se arvorar como construtora de um País, de um futuro que ela própria fez questão em destruir ao longo destes anos. Os apoios que alguns receberam ao longo dos anos, os perdões ou amnistias que os bafejaram, as benesses que à sombra do poder lhes foram concedidas, muito eu gostaria de perceber quais os resultados que daí advieram para o bem colectivo?! Afinal, o BPN pode ser apenas – e não é nada pouco para os nossos bolsos – uma pequena parte do muito que estes senhores destruíram e desviaram ao bem colectivo. Quem hoje está de um lado passa, com a maior das naturalidades, para o outro sem qualquer peso na consciência (palpita-me que não a tenham!).
É difícil aguentar tanta sacanice, mesmo num país de sacanas.
Sejam felizes em seara de gente.
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